Desvendando Mitos: A Percepção dos Alimentos Processados no Brasil

21 de maio de 2025

Cada vez mais, as pessoas associam “comida processada a pouco saudável”. Mas as pessoas sabem mesmo o que é comida processada? O quanto o fato de ser processada influencia ou não na decisão de compra? Quais cuidados a indústria deve tomar para não ter sua marca associada ao não saudável?

Um estudo divulgado pela Fiocruz revela que, no Brasil, um em cada dez óbitos pode ser relacionado ao consumo de produtos ultraprocessados. Os dados indicam que a ingestão de itens como refrigerantes e bolachas recheadas é responsável por cerca de 57 mil mortes por ano, o que representa 10,5% do total de falecimentos registrados em 2019.

Em resposta, a Associação Brasileira de Alimentos, ABIA, soltou uma nota de repúdio, informando que o relatório era superficial, se baseando em dados de risco relativo extraídos de estudos pré-existentes e . Além disso, disseram que o que classificam como “alimento ultraprocessado” não possui uma definição clara, abrangendo mais de 5.700 itens produzidos pelas indústrias brasileiras. Entre eles estão produtos como pão, requeijão e iogurte, compondo uma lista extensa e diversificada de alimentos que pouco têm em comum.

De acordo com a definição do Ministério da Saúde, no Guia Alimentar Guia alimentar para a população brasileira, publicado em 2014 pelo Ministério da Saúde:

O estudo:

Considerando este cenário, a Reds realizou um estudo entre julho e agosto de 2024, entrevistou 500 pessoas para saber o que elas entendem sobre Alimentos processados e se elas associam o processamento das comidas a “pouco saudáveis e pouco nutritivas”. Este estudo busca desafiar suposições comuns e revelar insights importantes sobre como os consumidores percebem esses produtos. O nosso objetivo era investigar:

  • Você conhece o termo comida processada?
  • Explique com suas próprias palavras o que significa comida processada.
  • Quais dos itens abaixo você considera comida processada?

//Salsichas e embutidos
Comidas prontas congeladas
Refrigerantes
Pão de forma
Energéticos
Bacon
Bebidas Whey protein
Whey protein
Legumes congelados
Iogurte natural
Frutas congeladas
Açaí
Água de coco
Frutas frescas//

  • Como você classifica a saúde/nutrição das comidas processadas em geral?
  • Com que frequência você consome comida processada?
  • Até que ponto o fato de um alimento ser processado influencia sua decisão de compra?
  • Como você classifica as marcas (Coca Cola, Pepsi, Ferrero Roche, Bauducco, Hersheys, Ambev, etc) — (Industrializados/ Processados, Naturais, Ambos e não sei), e seus produtos
  • Você costuma ler as informações nutricionais e listas de ingredientes em alimentos processados antes de comprá-los?
  • E por último: Quem deveria ter a responsabilidade de recomendar ou não um produto/alimento natural: Médico/ Profissional, a Marca fabricante, Sua família, Supermercado/ Varejista/ Amigos.

Hipóteses Investigadas

O estudo focou em várias hipóteses, incluindo:

  1. Associando Processados à Saudabilidade: Alimentos processados são frequentemente vistos como não saudáveis, mas isso nem sempre é verdade.
    2. Ultraprocessados e Riscos à Saúde: Nem todos os ultraprocessados devem ser automaticamente considerados causadores de doenças como câncer e obesidade.
    3. Desconhecimento sobre Processados: Muitos brasileiros desconhecem verdadeiramente o que constitui um alimento processado, apesar de afirmarem o contrário.
    4. Decisões de Compra Baseadas em Associações: Consumidores frequentemente fazem escolhas de compra sem verificar a veracidade das informações.
    5. Whey Protein e Processamento: Mesmo o whey protein, um símbolo de alimentação saudável, é um ultraprocessado.
    6. Alimentos Comuns e Processamento: Alimentos geralmente considerados saudáveis, como iogurtes e queijos, também são processados.

Resumo dos Dados

Ao explicar com suas próprias palavras, 100% dos participantes forneceram respostas que variaram entre as categorias abaixo, refletindo uma compreensão majoritariamente focada em processos industriais e aditivos.

Industrialização e processos químicos 49%,

Aditivos para durabilidade e sabor — 18%

Enlatado e conservas — 15%

Pronta para consumo — 8% ↓

Moída, triturada, batida — 5% ↓

Não saudável — 5% ↓

Podemos observar algumas diferenças significativas entre os perfis de consumidores, que podem ser interpretadas em termos de classe social e faixa etária.

Industrialização e processos químicos
— Homens mencionam significativamente mais por produtos industrializados e processos químicos (55.04%) em comparação com mulheres (43.40%).
— Na região Sudeste, essa preferência é significativamente maior (53.48%) em comparação com outras regiões.

Aditivos para durabilidade e sabor
— Mulheres mencionam significativamente mais aditivos para durabilidade e sabor (22.96%) em comparação com homens (13.18%).
— Consumidores da classe A têm uma preferência significativamente maior (33.05%) por esses produtos em comparação com outras classes.
— Regiões Norte e Centro-Oeste também mostram uma preferência significativamente maior (27.03% e 26.25%, respectivamente).

Enlatado e conservas
— A região Norte mostra uma preferência significativamente maior por enlatados e conservas (23.58%) em comparação com outras regiões.
— A região Sul tem uma preferência significativamente menor (11.31%).

Pronta para consumo
— Homens têm uma preferência significativamente maior por produtos prontos para consumo (10.85%) em comparação com mulheres (6.29%).
— A classe A tem uma preferência significativamente menor (1.66%) por esses produtos.
— A região Sul mostra uma preferência significativamente maior (14.25%), enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste têm preferências significativamente menores (0% e 2.08%, respectivamente).

Moída, triturada, batida
— Mulheres têm uma preferência significativamente maior por produtos moídos, triturados ou batidos (6.29%) em comparação com homens (3.10%).
— A classe A tem uma preferência significativamente menor (0%).

Não saudável
— A classe C mostra uma preferência significativamente maior por produtos não saudáveis (6.13%).
— A faixa etária de 25 a 34 anos tem uma preferência significativamente maior (6.82%), enquanto a faixa etária de 24 anos e abaixo tem uma preferência significativamente menor (2.09%).
— A região Sul mostra uma preferência significativamente maior (9.54%).

Essas diferenças indicam que as preferências de consumo variam significativamente com o gênero, classe social, faixa etária e região. Homens tendem a preferir produtos industrializados e prontos para consumo, enquanto mulheres preferem aditivos para durabilidade e sabor. Consumidores da classe A evitam produtos prontos para consumo e moídos, enquanto a classe C tem uma maior inclinação para produtos não saudáveis. Faixas etárias mais jovens evitam produtos não saudáveis, e as preferências regionais variam consideravelmente, com o Norte preferindo enlatados e conservas e o Sul mostrando uma maior inclinação para produtos prontos para consumo e não saudáveis.

67% dos entrevistados consideram comidas processadas pouco ou muito pouco saudável
Grande parte das mulheres 71% acha que comidas processadas são pouco saudáveis
A Classe C é a que menos tem esta percepção e acha que comida processada pode ser saudável.

Considerando a definição correta do Guia Alimentar do Ministério da Saúde, a comida processada utiliza adição apenas de sal e açucar e leveduras, conservas, congeladas, sem ingredientes químicos e tem pouca interferência de químicos, aditivos, realçadores de sabor, etc.

Salsicha e embutidos — Não é processado — 86% acha que é (mas na verdade são ultraprocessados);

Comida pronta congelada— 69% acha que é (mas na verdade é ultraprocessada);

Refrigerante — 54% — acha que é(mas na verdade é ultraprocessado);

Pão de forma — 36% acha que é (a maioria dos pães de forma vendidos nos supermercados são ultraprocessados, os que não tem conservantes, com fermentação natural são processados);

Energético — 34% (mas na verdade é ultraprocessado);

Bacon — É processado — 31% acha que é (é processado).

Bebida Whey protein — Não é — 30% acha que é (mas na verdade é ultraprocessada)

Whey protein — 29% acha que é (mas na verdade é ultraprocessado)

Legume congelado — É processado — 25% acha que é (é processado).

Iogurte natural — 18% — acha que é (é processado).

Frutas congeladas — 15% —acha que é mas na verdade é in natura.

Açaí — 15% acha que é (é processado).

Água de coco — 6% —acha que é (é processado se for a de caixinha, senão é in natura).

Frutas frescas —5% acha que é, mas na verdade é in natura.

A comida processada e ultraprocessada não pode ser associada unicamente a “Não saudável”. Existem comidas ultraprocessadas que são saudáveis e ajudam em dietas e no bem estar das pessoas na vida rotineira da cidade.

Diariamente + semanalmente correspondem a 37%, a maioria dos entrevistados.

Mesmo com uma baixa percepção de saudabilidade, a frequência de consumo de comidas processadas é bastante alto (37% consomem diariamente ou várias vezes por semana).

Conseguimos observar diferenças significativas entre os perfis analisados no consumo de comida processada.

Frêquencia Diária
— A faixa etária “24 anos ou menos” consome significativamente mais comida processada diariamente.
— A região Centro-Oeste também apresenta um consumo diário significativamente maior.
— A faixa etária “45 anos ou mais” e a região Sul consomem significativamente menos comida processada diariamente.

Várias Vezes por Semana
— A região Sudeste consome significativamente mais comida processada várias vezes por semana.
— A região Centro-Oeste consome significativamente menos.

Semanalmente
— A faixa etária “45 anos ou mais” consome significativamente mais comida processada semanalmente.
— A região Norte consome significativamente menos.

Raramente
— A classe socioeconômica A raramente consome comida processada.

Analisando as pesquisas coletadas, conseguimos observar padrões de comportamento distintos entre os grupos analisados.

Sexo:
– Mulheres são menos influenciadas pelo fato de um alimento ser processado em comparação aos homens.
– Homens são mais influenciados pelo fato de um alimento ser processado do que mulheres.

Classe Social:
– Classe A é menos influenciada por alimentos processados em comparação às outras classes.
– Classe B é mais influenciada por alimentos processados do que a Classe C.
– Classe C prefere mais alimentos processados do que as outras classes.

Faixa Etária:
– Pessoas com 24 anos ou menos são menos influenciadas por alimentos processados.
– Pessoas entre 35 e 44 anos são mais influenciadas por alimentos processados.
– Pessoas entre 25 e 34 anos preferem mais alimentos processados do que outras faixas etárias.

Região:
A região Norte é mais influenciada por alimentos processados.
A região Centro-Oeste é menos influenciada por alimentos processados.
A região Sul prefere mais alimentos processados do que outras regiões.

Interessante notar que as marcas como Coca-Cola e Pepsi, foram mais associadas a “industrializados e processados”. A marca YoPro, de produtos wheyprotein foi a mais associada como “naturais”.

Portanto, podemos notar que os produtos associados ao Bem-estar e Saúde, mesmo que tenham produtos ultraprocessados, tem uma percepção de saudabilidade maior.

Quase 70% lê o rótulo das informações nutricionais e ingredientes pelo menos às vezes.

Interessante notar que quase 30% tem pouco interesse em ler o que compram e consomem.

Esta pergunta nos leva a perceber o quanto é importante a recomendação profissional enquanto às dietas. Também a própria marca tem uma grande responsabilidade em ser transparente e educar o seu consumidor sobre saúde e nutrição.

Insights Revelados

O estudo revelou vários insights importantes:

Embora 91% dos entrevistados afirmem entender o conceito de alimentos processados, muitos continuam confusos, associando erroneamente apenas embutidos e refrigerantes a essa categoria.

Whey protein e iogurtes, embora processados, são frequentemente vistos como saudáveis, enquanto alimentos como bacon são rotulados como não saudáveis.

67% dos entrevistados consideram alimentos processados como não saudáveis, o que influencia diretamente suas decisões de compra e confiança nas marcas, apenas 16% confirma que isso não influencia em suas compras.

Há uma baixa confiança nas informações fornecidas pela indústria alimentícia, com muitos consumidores não confiando nos rótulos dos produtos.

Oportunidades para Marcas

Diante dessa confusão, surgem várias oportunidades para marcas que desejam se posicionar de forma mais transparente:

Ampliar a disseminação de informações claras sobre alimentos processados e ultraprocessados e o que de fato compromete a saúde (quantidade máxima de sódio, carboidratos, gorduras sugeridos por dia).

Para melhorar a educação do consumidor, é essencial que as informações sejam claras e acessíveis. Isso pode incluir rotulagem mais eficaz nos produtos, campanhas de conscientização pública e programas educacionais nas escolas sobre nutrição. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a ingestão diária recomendada de sódio, por exemplo, é inferior a 2.000 mg, enquanto o consumo de açúcares livres deve ser mantido abaixo de 10% da ingestão total de energia.

Aqui estão algumas ações práticas que podem ser tomadas:

  • Promover campanhas educativas que expliquem os riscos associados ao consumo excessivo de alimentos ultraprocessados.
  • Implementar rotulagem clara nos alimentos, destacando os níveis de sódio, açúcar e gorduras.
  • Incentivar a inclusão de educação alimentar nas escolas para jovens e crianças.
  • Fomentar o acesso a alimentos frescos e não processados, especialmente em áreas de baixa renda.

Ferramentas como apps podem ajudar consumidores a entender melhor o que estão consumindo. Alguns exemplos de como IA pode ajudar:

  • Desenvolver aplicativos que fornecem alertas de saúde ao escanear produtos alimentícios (por exemplo o Desrotulando);
  • Criar cursos online adaptativos sobre alimentação saudável;
  • Utilizar análise de dados para orientar campanhas de saúde pública;
  • Implementar assistentes virtuais que respondem a dúvidas sobre nutrição.

Desenvolver embalagens que forneçam informações claras e acessíveis.

Reformular produtos para reduzir aditivos e criar alternativas saudáveis ajudando seus consumidores a seguirem as orientações do Ministério da Saúde, contribuindo para uma nutrição melhor e menos prejudicial.

Preferências de Consumo

O estudo também destacou diferenças nas preferências de consumo com base em gênero, classe social e região:

– **Homens** tendem a preferir produtos industrializados e prontos para consumo.
– **Mulheres** mostram preferência por alimentos com aditivos para durabilidade.
– **Classes Sociais:** Consumidores da classe A preferem evitar produtos prontos para consumo.
– **Regiões:** O Norte prefere enlatados, enquanto o Sul tem uma inclinação maior para produtos prontos para consumo.

Apesar de 67% dos entrevistados considerarem processados como pouco saudáveis, 37% consomem esses alimentos diariamente ou várias vezes por semana. Quando questionados sobre a influência do processamento na decisão de compra, 28% disseram que influencia, enquanto 52% disseram que influencia um pouco.

A leitura de informações nutricionais varia: 23% sempre lêem, 45% às vezes, 17% raramente e 8% nunca. (colocar tabela. gráfico)

Conclusão

O estudo realizado pela Reds revela um descompasso significativo entre a percepção pública e a realidade dos alimentos processados e ultraprocessados no Brasil. Embora muitos consumidores associem automaticamente esses produtos a opções pouco saudáveis, a compreensão do que realmente constitui um alimento processado é frequentemente limitada.

É importante reconhecer que não devemos relacionar o termo “processado” ou “ultraprocessado” exclusivamente a alimentos não saudáveis ou pouco nutritivos, tampouco à obesidade e problemas de saúde como diabetes e hipertensão. Embora a obesidade afete 68% da população com excesso de peso e seja uma questão crítica que merece atenção, a relação entre alimentos processados e problemas de saúde envolve diversos fatores, incluindo hábitos alimentares, frequência de consumo e quantidade ingerida, além de predisposições individuais.

Portanto, este estudo é crucial para demonstrar que não podemos generalizar e rotular todos os alimentos processados como “não saudáveis”. Produtos como iogurte, whey protein, açaí e legumes congelados são exemplos de alimentos processados que podem integrar uma dieta saudável.

Essa compreensão oferece uma oportunidade valiosa para as marcas que desejam se destacar no mercado. Ao investir em transparência e educação, as empresas podem desmistificar conceitos errôneos e fornecer informações precisas aos consumidores sobre os alimentos processados. Além disso, ao adotar inovações em embalagens e utilizar tecnologias como aplicativos de IA, as marcas podem facilitar o acesso a informações claras e precisas. Isso não apenas reforça a confiança do consumidor, mas também ajuda a estabelecer um relacionamento mais forte e duradouro.

Assim, ao se posicionarem como líderes em qualidade e educação alimentar, as marcas têm o potencial de transformar percepções e influenciar positivamente as decisões de compra, promovendo escolhas alimentares mais informadas e saudáveis.

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